
Vyctoria Zagatti estrela a peça “Maria no Fio da Navalha”, que participa de festival teatro no Tijuca Tênis Clube.
Criada na Freguesia, a moradora e atriz Vyctoria Zagatti brilha na peça teatral "Maria no Fio da Navalha". Sob a direção e roteiro de Ramon Cazuza, o espetáculo narra a trajetória de Maria Navalha, a primeira entidade brasileira, atravessando um século de história e destacando a luta das mulheres contra a desigualdade.
A peça será apresentada na 6º edição de Festival Teatro Adulto que acontece no dia 20 de outubro, às 20h. Com duração de 55 minutos e classificação de 16 anos, os ingressos (R$30 meia e R$60 inteira) estão disponíveis no Sympla.
"Maria no Fio da Navalha" narra a história de Maria, destacando a desigualdade de gênero que persiste ao longo do tempo. A peça traz reflexões sobre o que é ser mulher, contando como Maria se tornou Navalha.
Mais que um espetáculo, é uma experiência que entrelaça religião e histórias de várias Marias. A peça conta ainda com a direção corporal de Lucas Muniz, direção musical de Allan Arcanjo, produção de Juliana Junto e um elenco que inclui, além de Vyctoria, Bebel Ribas, Lorrayne Kaye e Karine Braz.
"A proposta de Maria no Fio da Navalha é incentivar, fortalecer e inspirar, criando uma rede de apoio para todas as mulheres que, como Maria, enfrentam machismo e violência. A peça, encenada por um grupo de candomblé, narra a história de Maria Navalha, a primeira entidade brasileira, que lidava de igual para igual com os homens e sofria preconceito. Ela se tornou uma intercessora para todas as mulheres que enfrentam violência doméstica e estrutural. A obra é um convite para que mulheres se unam e vivam a sororidade”, explica Vyctoria.
Seja brincando no Mainstreet, foliando no Bloco da Freguesia e frequentando a Lona Cultural, Vyctoria conta que desde criança sempre foi uma pessoa muito performática e dramática. Seus primeiros passos foram aos oito anos, quando iniciou um curso de teatro. Nele aprendeu práticas de jogos teatrais e se apresentou no Teatro dos Grandes Atores algumas vezes.
“Eu sempre fiz muita coisa ao mesmo tempo. Teve uma época que fazia teatro em dois lugares diferentes. Durante a semana na Nova Escola e aos sábados participava de um projeto social chamado Tipo Assim, dirigido por Leopoldo Rodrigues no Colégio Santo Antônio. Esse projeto oferece aulas gratuitas de teatro para os jovens da região. Além da atuação, nós estudávamos muito. Ali comecei a entender e a descobrir o que era o teatro. Foi muito bom a minha passagem lá”, conta.
Vyctoria relata que foi graças ao projeto social que conheceu a TRK Produções, onde fez a primeira apresentação profissional com o espetáculo “Peter Pan”, em 2019. No mesmo ano iniciou o bacharelado em Estética e Teoria do Teatro, fez estágio de produção no CCBB e produziu um sarau no bairro do Anil, visando fomentar a arte na região.
“Organizei com ajuda de familiares e amigos, recebendo artistas locais. O evento surpreendeu ao atrair 70 pessoas, mesmo sem estrutura ou financiamento. Durante a pandemia de 2020, criei o projeto "Aporia Viva" com Carolina Marques e Mari Cassemiro, duas amigas talentosas. Também iniciei "Lugares e Olhares", focado nas possibilidades dos lugares e na vulnerabilidade humana, embora ainda não concluído. Esses projetos foram momentos significativos de criatividade e colaboração”, relata.

Além da atual peça, Vyctoria participou da apresentação "Balé Pernalta" no Global Village. Com direção de Raquel Poti, a apresentação foi uma das atrações do Rock in Rio 2024. Para 2025, ela conta que seu maior sonho é levar a peça para todos os estados.
Vyctoria também sonha viver de teatro e com uma carreira próspera, rica em integridade, honestidade e transparência. Tendo sua mãe como inspiração, ela ressalta que o que mais deseja é uma vida que nunca perca sua essência, para ela e sua arte.
“Quero viver da minha arte genuína que vem do meu âmago, minhas angústias e amores. Desejo que minha arte prospere e mantenha sempre sua essência.Talvez eu não compartilhe muito, mas quero seguir na área que estudo, me tornar uma teórica, fazer doutorado e virar acadêmica. Adoro compartilhar o que sei, está no sangue, herança da minha mãe, minha maior referência e inspiração. Ela me passou essa paixão pela educação e pela arte”, exclama.
Levando cultura através da Companhia Nós Que Tá
Desde 2020, Vyctoria faz parte da Companhia Nós que Tá, um grupo artístico dedicado à promoção e valorização da cultura popular brasileira. Formado por jovens de diversas áreas, como teatro, música, dança e artes visuais, o coletivo busca criar um espaço de expressão e resistência cultural. Suas ações estão enraizadas na comunidade e visam fortalecer a identidade cultural e fomentar o engajamento social através de apresentações, oficinas e projetos colaborativos.
“A Companhia Nós que Tá foi fundada e é dirigido por Ramon Cazuza. Ele propõe criar textos, músicas e produções autorais para que o grupo funcione de maneira independente, sem depender de financiamentos ou editais. É uma pessoa incrível e genial. Entrei no coletivo em 2020, a convite dele, para fazer "Maria em RE-TRATOS". A peça foi um sucesso, ganhando muitos prêmios e participando de festivais em São Paulo e no Rio. Em seguida, trabalhamos em Mulherão, outra peça sensacional que percorreu diversos locais, incluindo o Tijuca Tênis Clube”, explica.
O coletivo tem se destacado pela sua abordagem inovadora e inclusiva, promovendo a participação ativa de pessoas de diferentes idades e origens. Seus projetos são marcados pela diversidade temática e pela integração de múltiplas linguagens artísticas, proporcionando ao público uma experiência rica e transformadora. Além das apresentações, a Companhia Nós que Tá realiza atividades educativas e de formação, incentivando o desenvolvimento artístico e pessoal dos participantes.
“O objetivo agora é crescer e levar a peça Maria a outros lugares, buscando editais e patrocínios para isso. E o festival no TTC é parte importante da nossa história e bagagem. Estamos sempre buscando novas oportunidades para crescer e apresentar nosso repertório, fortalecendo o coletivo e nossa presença cultural. Para conhecer nosso trabalho é só seguir nosso perfil no instagram @cianosqueta”, conta.
“Maria no Fio da Navalha”
Vyctoria conta que "Maria no Fio da Navalha" surge do sentimento de Ramon, diretor da peça, em homenagem a sua mãe e todas as mulheres que ele conhece. Ela explica que ele perdeu a mãe muito jovem, seu nome era Maria, assim como o nome da sua avó. Vyctoria também ressalta a existência de várias outras mulheres em sua vida chamadas Maria, e cada uma delas influenciou e cuidou dele de diferentes formas.
Ao conhecer a história de Maria Navalha, Ramon se surpreendeu e fez uma conexão entre ela e todas as "Marias" em sua vida. Isso o inspirou a escrever uma peça sobre Maria e sobre a experiência de viver no fio da navalha, uma metáfora para a condição de estar à margem da sociedade, uma posição que representa a realidade de muitas mulheres brasileiras. Vyctoria conta
"Na peça, nós exploramos essas histórias através da religião e da tradição oral. Contamos quatro histórias de Maria Navalha: Maria Navalha do Cais, Maria Navalha do Cabaré, Maria Navalha Menina e Maria Navalha do Morro da Providência. Eu interpreto uma fase da vida de Maria Navalha que é comum a todas elas, a fase em que Maria Navalha vive um amor abusivo", conta Vyctoria.
A história de "Maria no Fio da Navalha" começa com a atriz Bebel Ribas interpretando a personagem Maria, que fica órfã e cresce nas ruas da favela. Apesar de ser uma criança como as outras, ela enfrenta vulnerabilidades por ser menina e é marginalizada desde cedo.
A personagem da atriz Karine Braz representa a adolescência, quando Maria percebe que seu corpo pode ser comercializado. Ela vai para o cabaré, mas decide que essa não é a vida que quer. Então entra a personagem da atriz Lorrayne Kaye, que trabalha no morro da Providência, disfarçada com roupas masculinas para ser respeitada e dissociar seu corpo da sexualização.
Por fim, entra em cena a personagem de Vyctoria Zagatti. Já mais madura, compreende que pode ser quem é e conquista o respeito que merece. No entanto, ela se apaixona por um malandro e é traída por ele, recebendo uma punhalada nas costas. Isso a transforma em uma entidade. A navalha é um presente de Seu Zé, que aparece na peça como protetor dela, não como amante.
“Estamos com altas expectativas e ansiosos para ver "Maria no Fio da Navalha" ganhando notoriedade e, quem sabe, prêmios. Mesmo se não ganharmos, a satisfação de ver a casa cheia já é grande. Esperamos que o público veja outras peças da nossa companhia e aprecie nosso repertório”, almeja.
Festival de Teatro Adulto
O Festival de Teatro Adulto é um evento cultural significativo que reúne atores, diretores e dramaturgos para apresentar peças voltadas ao público adulto. O festival, realizado anualmente em várias cidades, exibe produções teatrais que abordam temas sociais, políticos e existenciais. Com uma programação diversificada, que inclui desde clássicos até textos contemporâneos.
A 6º edição do festival não só exibe produções teatrais, mas também serve como ponto de encontro para profissionais e entusiastas do teatro. Oferece oficinas, palestras e debates que promovem a troca de ideias e experiências, essenciais para o desenvolvimento artístico e profissional, fortalecendo a comunidade teatral e incentivando novas colaborações.
“O Festival de Teatro Adulto é um evento incrível e necessário para o bairro da Tijuca. Participar novamente tem sido uma experiência inédita. A oportunidade de estar no festival e o carinho dos organizadores fazem com que nossa experiência seja extremamente gratificante e motivadora, levando nossa arte para mais pessoas e fortalecendo nossa presença cultural”, conta.
Ficha Técnica
Direção e texto: Ramon Cazuza
Direção corporal: Lucas Muniz
Direção musical: Allan Arcanjo
Produtora: Juliana Junto
Elenco: Bebel Ribas, Lorrayne Kaye, Karine Braz e Vyctoria Zagatti
Serviço
Evento: Peça Teatral "Maria no Fio da Navalha" Data: 20 de outubro de 2024 Horário: De 20h às 21h Duração: 55 minutos Classificação: 16 anos Ingressos: disponíveis no Sympla, R$30 (meia) e R$60 (inteira).
Endereço: Rua Conde de Bonfim, nº 451 (Teatro Henriqueta Brieba, dentro do Tijuca Tênis Clube), Rio de Janeiro - RJ
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