Pixinguinha e o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, em Jacarepaguá!
- IHBAJA
- 5 de jul.
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Por: Renato Souza Dória.
Professor e pesquisador do IHBAJA.
As fotos registram grandes mestres da música popular brasileira em um evento festivo. Na primeira foto vemos os violonistas Meira e Dino, no cavaquinho Canhoto, Gilson de Freitas no pandeiro, Pixinguinha no saxofone, Benedicto Lacerda na flauta e Luiz Gonzaga na sanfona. Na segunda foto temos Dino ao centro com seu violão e Canhoto com seu cavaquinho à esquerda de Dino. Pixinguinha ao lado de Canhoto, tocando seu saxofone e Benedicto Lacerda tocando flauta de frente para Luiz Gonzaga, que está de costas na foto.
Na terceira foto, o instante capturado mostra o entusiasmo de Benedicto diante do Rei do Baião, enquanto este ouve atentamente as notas suaves que ecoam da sua flauta. Ao lado de Luiz Gonzaga e Benedicto Lacerda vemos Pixinguinha no saxofone e Canhoto no cavaquinho (à esquerda), Dino no violão (de costas) e Gilson de Freitas no pandeiro (na retaguarda de Luiz Gonzaga. Um detalhe curioso da foto é a presença de um cinegrafista registrando o evento. Ele aparece em pé em destaque, numa altura acima dos convidados.
Nos registros do evento festivo, os músicos posam e tocam em um almoço em comemoração ao aniversário do jurista Eduardo Espínola, realizado em Jacarepaguá em novembro de 1947. O baiano Eduardo Espínola foi um famoso jurista brasileiro e após ter sido nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal em 1931, ocupou os cargos de vice-presidente (1937) e presidente (1940) durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas.
Pixinguinha foi morador e frequentador da região de Jacarepaguá em vários momentos de sua vida. Por volta dos seus onze anos de idade, ainda na infância, começou a tocar em festa e bailes, onde comparecia levando flauta e cavaquinho. Foi em uma reunião musical em Jacarepaguá que o menino prodígio passou a ser reconhecido como músico. Na ocasião o pequeno gênio tocou a polca "língua de preto", de autoria de Honorino Lopes, durante meia hora sem errar, causando espanto na plateia.
Na festa de aniversário do jurista Eduardo Espínola, em 11 de novembro de 1947, já havia um mês da estreia do programa de rádio "O pessoal da velha guarda", em que Pixinguinha tocava com Benedicto de Lacerda, Dino, Meira, Canhoto, Gilson e Pedro da Conceição (percussão). Todos estes já eram nomes de peso da música popular brasileira dos anos 1930 e 1940 e continuariam sendo nas décadas seguintes.
Quatro anos antes de morrer, em 1969, Pixinguinha se mudou com sua esposa Betty para uma casa de vila no bairro da Praça Seca, na rua Pedro Teles número 423. Esta foi, provavelmente, a última passagem de Pixinguinha em vida pela região de Jacarepaguá.
Jacarepaguá é uma região suburbana da zona oeste do Rio de Janeiro que foi palco de momentos significativos na história da música brasileira, e um desses momentos está ligado ao ilustre Pixinguinha, um dos maiores nomes do choro, do samba e da música popular brasileira. Nos anos 1940, Pixinguinha, conhecido por seu virtuosismo no saxofone e sua contribuição fundamental para a popularização do choro e do samba, passou a frequentar com mais regularidade a região de Jacarepaguá.
O bairro na época era a zona rural da cidade e ainda estava distante do agito dos centros urbanos mais movimentados do Rio, e foi ali que Pixinguinha encontrou um ambiente mais tranquilo, onde podia se conectar com sua arte e com outros músicos que compartilhavam de sua paixão pela música brasileira. Além disso, Jacarepaguá foi cenário de diversos encontros e festas que marcaram a trajetória de Pixinguinha, como a festividade que apresentamos nestes preciosos registros.
Pixinguinha esteve presente em incontáveis rodas de samba e choro pela cidade do Rio de Janeiro, onde o improviso e a troca de ideias entre músicos eram essenciais para a construção do repertório que definiria a música popular brasileira nas décadas seguintes.
Sua passagem por Jacarepaguá ajudou a consolidar a região como um espaço de efervescência cultural, onde o samba e o choro eram vivenciados de maneira autêntica.
A presença de Pixinguinha em Jacarepaguá não foi uma mera questão de geografia ou de moradia. Foi, sobretudo, uma questão de conexão com o Rio de Janeiro e com determinados bairros onde inúmeros músicos se reuniam e com imensa criatividade deitaram as raízes do samba e da MPB. E mesmo com o passar do tempo, a região continuou a ecoar nas ruas, nos quintais, nas esquinas e nas lembranças daqueles que vivenciaram esse período.
Já Luiz Gonzaga contava apenas 35 anos em 1947 e lançara, havia pouco tempo, mais uma música de sucesso: Asa Branca. Desde 1939 o futuro Rei do Baião já fazia sucesso na cidade do Rio de Janeiro, onde conquistou o primeiro lugar no concurso de calouros do programa de rádio comandado por Ary Barroso. Em 1941 gravou um dos seus primeiros sucessos como solista, a música “vira e mexe”. Dois anos depois Luiz Gonzaga fez uma apresentação na Rádio Nacional apresentando um figurino que seria a sua marca dali em diante: a roupa de vaqueiro nordestino.
O "Rei do Baião" não foi apenas um ícone da música nordestina, mas também uma figura que, de alguma forma, se conectou profundamente com o Rio de Janeiro e seus arredores. Jacarepaguá foi um dos locais que teve a honra de receber o cantor e compositor. Esta região rural da zona oeste carioca, nas décadas de 1940 e 1950, já se mostrava como um importante ponto de convergência cultural, atraindo músicos e artistas de diversas partes do Brasil.
Embora fosse originário do sertão pernambucano, a vivência carioca em Jacarepaguá contribuiu para o amadurecimento da sonoridade de Luiz Gonzaga, que unia o baião e o xote com influências de outros gêneros musicais. Jacarepaguá foi o cenário de importantes encontros musicais, em que Luiz Gonzaga compartilhou seu repertório e suas histórias com outros artistas de renome, não apenas do Nordeste, mas também do samba, do choro, da bossa nova e da música popular brasileira. O bairro serviu como um ponto de troca e vivência cultural que, sem dúvida, teve um impacto na consolidação do nome de Luiz Gonzaga no Rio de Janeiro e no Brasil.
É importante lembrar que, além da sua música, Luiz Gonzaga trouxe para o Rio a representação de sua terra natal, o sertão nordestino, e suas raízes. A presença de Luiz Gonzaga em Jacarepaguá, com seu estilo único e sua autenticidade, também foi uma forma de aproximar as duas realidades – a do sertão pernambucano e a do sertão carioca – através da arte e da música que unificam as diferentes regiões do Brasil.
Por várias vezes, ao longo dos anos, Pixinguinha e Luiz Gonzaga frequentaram o bairro e fizeram de Jacarepaguá um lugar significativo para o desenvolvimento de suas carreiras no Rio de Janeiro.
A região, que, naquela época, possuía um ambiente mais tranquilo em comparação ao centro da cidade, oferecia aos músicos que a frequentavam o espaço perfeito para se conectar com a natureza e com outros artistas. A importância de Jacarepaguá como um ponto de encontro e de influência na carreira de diferentes músicos, como Luiz Gonzaga e Pixinguinha, evidencia o papel do bairro como um local efervescente para a consolidação do samba e da música popular brasileira ao longo do século XX.
Créditos: Barão do Pandeiro e Rafael Mattoso.
Fontes: Pixinguinha: vida e obra, de Sérgio Cabral; Pixinguinha: filho de Ogum bexiguento, de Marília Trindade Barboza e Arthur de Oliveira Filho.

Sobre o autor: Renato de Souza Dória é graduado em História pela Universidade Gama Filho e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Atua como professor de História e Sociologia do ensino básico da SEEDUC-RJ e é pesquisador do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá.
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