Dia de Rio das Pedras: Estamos em construção
- Agência Lume

- 6 de set.
- 5 min de leitura

O Dia de Rio das Pedras chegou e, aproveitando a onda das comemorações dos cinco anos da Agência Lume, resolvemos brincar de historiologia/futurologia para fazer um balanço histórico de Rio das Pedras enquanto adivinhamos seu futuro.
Esse tipo de exercício é muito arriscado, porque o futuro não pertence a ninguém e o natural é que muitas tendências acabem indo na contramão do que previmos. A verdade é que todo esse texto, daqui a cinco anos (ou menos), pode simplesmente azedar como leite em cima da pia no verão. Mas vale ressaltar que os futuros possíveis só se tornam reais se a vontade presente de realizá-los de realmente existirem. Então, depois dessa introdução que mais parece um 'mea culpa' adiantado, vamos juntos trazer um pouco do que analisamos criticamente sobre o nosso território.
Pensamos em trazer essas análises com base no que acompanhamos no território, sendo a Agência Lume a organização que trabalha cobrindo jornalisticamente Rio das Pedras, e, por isso, acompanha muitas iniciativas e atividades nas áreas culturais. A propósito, todos os tópicos tratados neste texto têm a ver com cultura, educação e identidade local, área na qual atuamos e, por isso, temos mais embasamento.
O que vimos até aqui
Apesar dos colaboradores da Lume, em sua maioria, serem moradores ou ex-moradores de Rio das Pedras, para fazer nosso exercício de historiologia vamos focar no período de 2020 a 2023, justamente porque foi nesse período que começamos a acompanhar profissionalmente as tendências e novidades do nosso território.
Quem vive ou viveu em Rio das Pedras sabe que, apesar de ser a segunda maior favela do Rio de Janeiro, nunca tivemos a mesma quantidade de projetos sociais ou equipamentos culturais públicos que existem em outras grandes favelas da cidade. E sim, é possível afirmar isso sem, necessariamente, criticar o que já conquistamos até aqui e nem criticar os avanços em outras áreas periféricas.
A verdade é que, por precisarmos lutar pelo saneamento básico, mais unidades de saúde, escolas e, principalmente, creches — questões importantes e de primeira necessidade — não tivemos tempo para pleitear equipamentos culturais e/ou apoios às organizações sociais já existentes no território.
Crescemos com a visão de que "nunca tem nada em Rio das Pedras", e aqui vamos entender esse "nada" como opções de cultura e lazer gratuitas. A verdade é que essas opções são escassas não só em Rio das Pedras, mas também nos bairros do entorno.
Seguindo com o exercício da historiologia, em 2020 acompanhamos um fortalecimento da rede local de organizações sociais, muito pressionado pelo contato da pandemia de COVID-19. Sofreremos bastante, mas, olhando para trás, a necessidade nos fortaleceu e exigiu a criação de estratégias conjuntas para ajudar os moradores.
E, apesar de tantas pessoas queridas terem nos deixado, o sofrimento deixou seu legado. A partir de 2021, vimos algumas organizações sociais surgindo e tantas outras ganhando força e representatividade, o que fez com que os movimentos sociais de Rio das Pedras voltassem a debates populares sobre melhores condições de vida.
Panorama atual
Todo o movimento visto até 2023 fez com que chegássemos ao momento atual, com a comunidade sendo mais vista e também representada nos debates públicos. Surgiram mais editais que incluíam Rio das Pedras e, com isso, mais possibilidades.
Outro movimento importante é o das iniciativas que buscam olhar para o passado, para que, dessa maneira, possamos construir um futuro mais representativo. Estamos buscando mais a nossa própria história. Entendemos que é preciso, sim, lutar por demandas urgentes, mas não podemos deixar toda uma geração de mestres e mestras ir embora sem passar adiante o seu legado.
Se, nos anos anteriores, as gerações de 1970, 1980 e 1990 plantaram as lutas por moradia, saneamento básico e mais dignidade, agora as novas gerações estão colhendo a representatividade de que tudo produziu isso. Com a juventude (não tão jovem assim) devolvendo os conhecimentos da academia para o território. São professores, historiadores, geógrafos, cientistas sociais, enfermeiros, assistentes sociais, comunicadores e tantos outros que estão pensando o território de acordo com suas vivências, aliadas aos aprendizados acadêmicos, o que gera uma riqueza de conteúdos e materiais que, no futuro, poderão ser utilizados nos âmbitos educacional, cultural e social.
Brincando de prever o futuro
E agora chegou o temido momento de praticar a futurologia: prever o futuro, ou os futuros possíveis. Como já disse o Dr. Estranho em Vingadores: Guerra Infinita, existem mais de 14 milhões de futuros possíveis, mas, diferente do filme, podemos trabalhar para que a maioria deles seja positiva. Assim, evitando narrar exatamente o que esperamos que aconteça, vamos elencar algumas tendências que estão despontando fortemente e que podem povoar esse futuro ainda desconhecido.
Fortalecimento das redes locais
Entendemos, por aqui, que a representatividade só pode ser construída se formos nós — moradores e agentes locais — os responsáveis por pensar e desenvolver o nosso próprio território, respeitando aqueles que vieram primeiro e suas histórias. Por isso, é importante que as redes locais se respeitem mutuamente e reconheçam o trabalho dos que já trilharam esse caminho. E sim, é permitido inovar e pensar diferente, mas sempre respeitando e entendendo que não estamos em disputa.
No futuro, as redes locais fortalecidas serão a garantia de que os projetos desenvolvidos serão realmente alinhados às necessidades do território e às suas tradições, podendo representar grandes avanços em áreas que ainda hoje exigem mais atenção.
Luta por mais cultura
Como comentado anteriormente, estivemos, por anos, envoltos em temas essenciais à vida humana, e que ainda não foram atendidos adequadamente em Rio das Pedras (algumas questões nem atendidas foram). Mas é importante que, nos próximos anos, nos dediquemos à busca por mais equipamentos e ações culturais.
Atualmente, já conseguimos enxergar ações culturais que são frutos de muito esforço e articulação de projetos sociais locais. Quem sabe, no futuro, tenhamos mais espaços para o desenvolvimento dessas ações e o apoio necessário para que elas sejam cada vez mais frequentes.
A força das novas gerações
O mundo digital cresce rápido e se desenvolve, e, com ele, novas gerações chegam sedentas para ver a mudança sonhada acontecer. Querem participar, contar suas histórias e, principalmente, querem ser ouvidos.
Quem achou que era 'nova geração' hoje já está na faixa dos 30 a 40 anos. Por isso, para construir o futuro, será preciso abrir mão das vaidades e escutar, mas não apenas escutar: também abrir espaço e apoiar.
A nova juventude virá orgulhosa da representatividade conquistada. Eles largaram nessa corrida muitos metros à frente, recebendo de nós o bastão para ver no horizonte distante uma brisa de linha de chegada. Serão eles que tornarão mais longevas as iniciativas existentes hoje, porque, sem eles, o presente será apenas mais uma história a ser relembrada.
Estamos em constante construção
Neste Dia de Rio das Pedras, vamos todos fazer o exercício de olhar para dentro: como podemos construir o futuro hoje? Será que nos meses de setembro que virão teremos mais motivos para comemorar o presente ou seguiremos falando, com saudosismo, das alegrias do passado?
A confirmação ou negação das tendências depende de nós. Independente do seu trabalho, pergunte: "Não que eu posso melhorar hoje?" Será que meu melhor é buscar o local correto de descarte para o meu lixo? Será que o meu melhor é estar mais presente nas atividades escolares do meu filho? Ou o meu melhor é ser voluntário em alguma organização social? Só você tem essa resposta, mas tenha certeza de que estaremos juntos nessa jornada.




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