Novo livro de Stefano Volp cria uma realidade futura para o Brasil, onde negros e brancos são separados socialmente.
O que você faria se faltasse energia elétrica por dias, semanas? Certamente, a vida não seria mais como a conhecemos. Não poderíamos usar dinheiro digital, as câmeras de vigilância não funcionariam... postar no insta, então? ESQUECE!
E é daí que Stefano Volp parte para escrever "O Segredo das Larvas". A história começa anos depois do "Breu", evento que remodelou a sociedade brasileira, e a dividiu em dois lados: a metrópole, Éden, e as colônias.
Baseado em uma passagem bíblica interpretada ao pé da letra, o governo torna "impuras" as pessoas negras, sentenciando-as às colônias, enquanto que os brancos vivem na metrópole.
E é de uma dessas colônias, mais precisamente de Absinto, que a nossa protagonista desponta. Freya é uma jovem, que como muitas outras, não conhece outra realidade a não ser a que vive.
Os cidadãos das colônias, recebem, anualmente, o evento da "Filtragem", onde catorze jovens são escolhidas para ir para o Éden. E ninguém jamais soube o que acontece do outro lado da cerca.
A única filtrada que retornou para a colônia é Amara, a mãe de Freya, que retornou, anos atrás, grávida, sem língua e com sequelas gravíssimas na sua saúde mental, o que a rendeu o apelido de "Doidinha". O que Amara mais quer é livrar a filha da Filtragem, assim, anualmente, ela arranha a cara de Freya, deformando-a, para que sua beleza seja escondida e os agentes do governo não a escolham.
Mas Freya, nossa heroína, nutre um ódio por Ádamo III, o atual presidente do Éden, ocupante do trono de tronco, e pelo regime que divide a população. E circunstâncias trágicas a fazem sair de Absinto para, enfim, conhecer Éden e seus mistérios.
Nessa jornada, Freya conhece pessoas, faz amigos, inimigos, descobre que há uma resistência contra o regime e até um intrigante enigma a cerca de uma personagem, até então desconhecida, que só é identificada como "Cobra".
A história fica ainda mais forte por ser narrada em primeira pessoa: vemos, sabemos, descobrimos e nos aprofundamos nela junto com Freya, nos tornamos quase íntimos dela enquanto lemos o seu relato mais íntimo. O Segredo das Larvas trata de assuntos importantes como o racismo, o extremismo religioso, a saúde mental, a miséria e a discriminação, e os traz pra uma narrativa eletrizante em que sempre tem algo acontecendo.
É brilhante a forma com que Volp exalta o povo negro, trazendo citações às religiões de matriz africana, falando de grandes nomes da luta pela igualdade e acenando para o passado de pessoas negras marginalizadas.
Volp traduz o sentimento de vigilância e de segregação sofrida pelas pessoas negras em um regime de governo criado para manter brancos e negros separados, seja por uma cerca física, seja por uma cerca ideológica, essa, muito mais difícil de cruzar.
Não há excessos: os acontecimentos são sempre muito intensos e muito bem descritos, o livro é cheio de cenas de ação empolgantes e cada personagem cumpre o seu papel onde precisa. O enredo é muito bem amarrado, mas é claro, deixando sempre um mistério para ser solucionado mais pra frente.
É, também, muito inteligente a maneira que o autor traça paralelos muito significativos com a nossa realidade: na desigualdade do sistema (mesmo entre cidadãos edenses) e em todo o processo de ingresso das filtradas na sociedade, por exemplo.
Durante muitos trechos, senti um nó no estomago muito característico da leitura de distopias, quando a ficção mostra um futuro horrível, mas que pode acontecer, e assim o autor nos conduz por um enredo muito bem escrito, que nos faz sentir um incômodo e repensar algumas atitudes que temos na vida real.
Com "O Segredo das Larvas", Stefano Volp nos brinda com uma afro-distopia de arrepiar! Indico muito a leitura! Ainda mais se você, como eu, adora o gênero de distopia (como Jogos Vorazes, Admirável Mundo Novo, 1984, Battle Royale e outros). Se interessou? Compre o livro clicando aqui.
O Stefano Volp respondeu algumas perguntas sobre a obra! Se liga:
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Douglas Teixeira é publicitário e apaixonado por livros desde que aprendeu a ler, e além desta coluna, também fala sobre livros no Instagram. Douglas é o Social Media e um dos fundadores da Agência Lume.
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