Um romance incrível e angustiante, que fala sobre a cruel realidade da adolescência de jovens negros e periféricos.
O livro conta a história de Moss, jovem negro e gay, morador de West Oakland, em São Francisco. Moss perdeu o pai para a violência policial quando ainda era criança, e este acontecimento causa diversas consequências na sua vida: entre elas ataques de pânico e crises de ansiedade.
“O Dom da Fúria” apresenta uma história forte e dura de se ler, chegando a ser brutal em algumas passagens. Mas também é um romance que fala sobre o amor, sobre a juventude, sobre o luto e sobre o amadurecimento.
Moss estuda em uma escola negligenciada pelo poder público, onde a maioria dos estudantes são negros. Em determinado momento, a instituição e o Departamento de Polícia decidem começar um programa piloto que visa coibir a "violência dos estudantes". E o primeiro passo desse programa é a instalação de detectores de metal nas entradas, passo esse justificado pela distorção de uma situação específica em que policiais agridem uma aluna.
Esta nova realidade transforma a vida escolar de Moss e seus amigos em um verdadeiro inferno, e ao tentar protestar contra isso, um novo problema envolvendo policiais acontece na escola, resultando em um grande número de alunos feridos.
E as situações se desenrolam até envolver toda a comunidade escolar, os moradores da cidade e o poder público. E é a partir daí que se escancaram os contrastes e as reações dos diferentes tipos de pessoas à violência policial e à situação das escolas da região. Wanda, a mãe de Moss, mostra-se uma importante peça do passado de West Oakland, sendo ela (e o falecido marido) militantes do movimento negro na juventude. E é ela quem dá apoio aos personagens adolescentes, incentivando e ensinando-os muito, inclusive como se proteger.
Um dos pontos mais fortes do livro é o seu ritmo: ele tem um enredo rápido, sem muitas delongas, apresentando personagens e situações sem enrolação, colocando cada elemento onde é necessário.
É um romance que fala sobre a violência policial e em como essa violência afeta as nossas vidas, principalmente as vidas da população que é marginalizada por eles: negros, pobres, e moradores de áreas marginalizadas das cidades.
Você vai amar e achar fofo muitos momentos de ternura entre Moss e Javier, vai adorar conhecer os personagens (em sua maioria jovens LGBTQIAP+), e vai ODIAR e morrer de aflição em diversas situações. No fim, "O Dom da Fúria" é uma importante história de ficção que conquista por escancarar tão bem a realidade.
Avaliação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Douglas Teixeira é publicitário e apaixonado por livros desde que aprendeu a ler. Além de escrever esta coluna, Douglas também é o Social Media e um dos fundadores da Agência Lume.
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