Por: Val Costa.
Em 1994, o jornalista Zuenir Ventura escreveu um livro intitulado “Cidade Partida”, no qual comparava as vidas dos moradores de Vigário Geral com as de ativistas da Zona Sul Carioca. A mídia se apropriou desse termo e passou a utilizá-lo como símbolo da desigualdade social existente na cidade do Rio de Janeiro. Passados 25 anos, podemos afirmar que o nosso município continua extremamente desigual e necessitando urgentemente de políticas públicas que visem minimizar essa situação.
A situação descrita acima não é uma exclusividade carioca. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua, divulgada em abril de 2018, mostra que metade da renda brasileira está nas mãos dos 10% mais ricos. Apesar das políticas afirmativas implantadas nos últimos 30 anos, as desigualdades ainda marcam de forma considerável o nosso país. A situação dos estados do Norte e Nordeste é pior do que a dos estados do Sul e Sudeste, as mulheres possuem renda menor e ainda se dedicam mais do que os homens aos afazeres domésticos e os afro-descentes continuam a ganhar menos do que os brancos.
Em 1990, a ONU criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele é uma medida resumida do progresso de um país em três aspectos: renda, educação e saúde. O IDH vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. Este índice também é usado para apurar o desenvolvimento de bairros, cidades e estados.
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O município do Rio de Janeiro possui um IDH de 0,799 (2010), sendo considerada uma cidade de desenvolvimento humano elevado. Entretanto, esse dado não pode mascarar as profundas disparidades sociais existentes no território carioca. Os micro-dados dos Censos Demográficos de 1991 e 2000 mostram essas desigualdades: enquanto a Gávea aparece em primeiro lugar na lista de bairros da nossa cidade, com um IDH de 0,970, o Complexo do Alemão figura em último, com um IDH de 0,711.
Em 2008, o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos – IPP – publicou um estudo intitulado “Índice de Desenvolvimento Social - IDS: comparando as realidades microurbanas da cidade do Rio de Janeiro”. O IDS é um indicador social que leva em consideração quatro grandes dimensões de análise: acesso ao saneamento básico, qualidade habitacional, grau de escolaridade e disponibilidade de renda. Indo também em uma escala de 0 a 1. Esse índice mostra uma cidade ainda mais desigual, pois apenas três bairros ficaram acima de 0,800 (Lagoa, Leblon e Ipanema), enquanto cento e nove bairros obtiveram IDS entre 0,500 e 0,700. A pesquisa ainda apontou que 24 bairros possuem um IDS menor do que 0,500. Dentre eles, três estão localizados na Baixada de Jacarepaguá: Vargem Pequena (0,425), Vargem Grande (0,408) e Camorim (0,369).
Val Costa é professor de Geografia e Membro do Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá.
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