
Pesquisa entrevistou 1.557 pessoas, residentes em 127 cidades brasileiras. Os resultados mostraram que 89% dos moradores das periferias já foram vítimas de notícias falsas.
Em julho deste ano, uma pesquisa recente do Instituto Data Favela revelou um cenário alarmante sobre a disseminação de fake news nas favelas e periferias do Brasil. O estudo, intitulado "Fake News: a epidemia que invade as periferias", foi apresentado no Expo Favela Innovation em São Paulo e trouxe dados preocupantes sobre o impacto da desinformação nessas comunidades.
A pesquisa entrevistou 1.557 homens e mulheres acima de 16 anos, residentes em 127 cidades brasileiras. Os resultados mostraram que 89% dos moradores das periferias já foram vítimas de fake news, o que representa cerca de 94 milhões de pessoas. Entre os principais temas de desinformação estão:
Venda de produtos ou serviços (65%)
Políticas públicas como educação, saúde e vacinação (64%)
Informações sobre economia e impostos (58%)
Segurança pública e leis (52%)
Questões ambientais, de ciência ou educação (49%)
Essas informações falsas podem levar a consequências graves, como a eleição de políticos inadequados, a criação de pânico sobre segurança e a perda de direitos por parte dos moradores. Além disso, a desinformação pode dificultar o acesso a serviços públicos essenciais, como saúde e educação, e prejudicar a confiança em programas governamentais.
“A desinformação circula no território com a confiabilidade de quem conhece, pois quem compartilha dentro do grupo é uma pessoa próxima, como um vizinho ou parente. Isso aumenta a chance de a desinformação ser aceita como verdade e enganar as pessoas, já que quem distribui é alguém conhecido. Nem sempre essa pessoa tem a intenção de enganar, mas a informação do território tem um rosto e uma confiança que vêm das pessoas conhecidas”, explica Sanara Santos, diretora de formação da Énois e coordenadora do projeto Diversidade nas Redações.
As Consequências das fake news nas favelas
A disseminação de fake news é facilitada pelo uso massivo de redes sociais e aplicativos de mensagens. Em muitas favelas, onde o acesso à informação de qualidade é limitado, essas plataformas se tornam as principais fontes de notícias. No entanto, a falta de verificação e a rápida propagação de informações falsas tornam essas comunidades particularmente vulneráveis.
As consequências das fake news são diversas e afetam diretamente a vida dos moradores das favelas. A pesquisa aponta que 25% dos entrevistados apontaram que as fake news podem eleger maus políticos, enquanto 23% acreditam que podem ferir a reputação de alguém e 15% identificam a criação de pânico sobre segurança como um dos principais riscos. Aqui estão algumas das principais consequências:
1. Desconfiança nas Instituições
A disseminação de informações falsas pode gerar desconfiança em relação às instituições públicas e privadas. Por exemplo, fake news sobre vacinas podem levar à hesitação vacinal, comprometendo campanhas de saúde pública e aumentando a vulnerabilidade a doenças.
2. Impacto na Segurança Pública
Informações falsas sobre crimes ou operações policiais podem gerar pânico e insegurança. Isso pode levar a reações exageradas ou até mesmo a conflitos entre moradores e forças de segurança.
3. Prejuízos econômicos
Fake news sobre produtos e serviços podem prejudicar pequenos comerciantes e empreendedores locais. Informações falsas sobre a qualidade ou segurança de produtos podem afastar clientes e reduzir a renda dessas famílias.
4. Influência política
A desinformação pode influenciar o comportamento eleitoral, levando à eleição de candidatos que não representam os interesses das comunidades. Isso perpetua ciclos de exclusão e falta de representatividade política.
5. Estigmatização e preconceito
Fake news muitas vezes reforçam estereótipos negativos sobre as favelas e periferias, perpetuando preconceitos e discriminação. Isso pode afetar a autoestima dos moradores e dificultar a integração social.
6. Dificuldade de acesso a serviços
Informações falsas sobre serviços públicos, como saúde e educação, podem levar os moradores a evitar ou não confiar nesses serviços. Isso compromete o acesso a direitos básicos e agrava a vulnerabilidade social.
7. Desinformação sobre direitos
Fake news podem distorcer informações sobre direitos trabalhistas, previdenciários e sociais, levando os moradores a tomar decisões prejudiciais ou a não reivindicar seus direitos adequadamente.
"É crucial combater a desinformação onde ela tem mais efeito: na decisão de quem colocamos no poder para tomar decisões sobre nosso estado. Essa proximidade com o território só pode ser alcançada por veículos locais, que conhecem bem a área e as pessoas. Outros veículos não conseguem fazer isso da mesma forma. Cobrir as eleições municipais fortalece o jornalismo local e independente, que atua dentro das periferias do Brasil", explica Sanara.
Agência Lume participará de Rede Nacional de checagem das Eleições Municipais de 2024
A Agência Lume participará do programa “Diversidade nas Redações - Desinformação e Eleições”, promovido pelo Laboratório Énois e com patrocínio da Google News Initiative. O programa visa construir uma Rede nacional de jornalismo local para a checagem das Eleições Municipais de 2024. E contará com o apoio da Agência Lupa, Agência Tatu, do Desinformante e do Reocupa.
O Diversidade nas Redações é um programa de treinamento da Énois, que tem como objetivo o fortalecimento institucional e financeiro de redações jornalísticas, por meio do impulsionamento da diversidade de gênero, raça e território.
O foco na temática da desinformação e eleições, com checagem de notícias falsas veiculadas por Whatsapp, marca o terceiro ciclo do programa que traz um diferencial na distribuição de recursos para as organizações envolvidas.
"A Agência Lume aceitou com muita alegria o convite da Énois para participar do DR3. Acreditamos na importância da checagem de fatos e da informação como principal pilar para eleições mais justas, limpas e seguras. Hoje, entendemos também que além de checar e entregar essas notícias de qualidade, precisamos criar uma rede de pessoas que tenham esse mesmo compromisso, e as formações são uma oportunidade perfeita para isso. Estamos muito animados e também preparando muitos conteúdos para esse período tão importante para a nossa democracia", conta Douglas Teixeira, co-fundador da Agência Lume.
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