Por: Sandro Bernardo.
Desde que era criança, a morte sempre foi um assunto que me chamou muito a atenção, uma mistura de fascínio e medo. O mistério, o assombroso e o fantástico que sempre estava envolto me atraía e ainda mais a proibição dele. Sim, a morte é um assunto proibido de se falar, ainda. A morte traz uma verdade que muitos temem, a vida tem um fim. Então vamos existindo como se ela, a morte, não existisse. Não queremos que ela exista porque é uma verdade que não conseguimos mais lidar e claro, a afastamos até quando for possível, assim tudo que está relacionado a morte também é afastado.
Caitlin Doughty em seu livro “Confissões do Crematório” (Smoke Gets in your Eyes, 2014) fala sobre como a sociedade afasta a existência da morte:
“Podemos nos esforçar para jogar a morte para escanteio, guardando cadáveres atrás de portas de aço inoxidável e enfiando os doentes e moribundos em quartos de hospital. Escondemos a morte com tanta habilidade que quase daria para acreditar que somos a primeira geração de imortais. Mas não somos. Vamos todos morrer e sabemos disso”
Basta pensar em como lidamos com o luto. Geralmente quem sofre uma perda é forçado a sair do luto e ser feliz e seguir com a vida. O show deve continuar na Sociedade do Espetáculo, então coloque um sorriso no rosto e seja mais uma pessoa que contribui com a sociedade. Mas a que custo?
Nossa sociedade, dentro redes sociais e novos padrões de relacionamentos nos faz acreditar que temos que estar bem o tempo todo, felizes, sorrindo e, o mais importante, gerando lucro e não incomodando. E cada vez mais escondemos emoções, choros e angústias no peito, sem saber o que fazer com tudo isso. Claro, essas energias vão para algum lugar, se alojam no corpo, numa dor de cabeça, aperto no peito, taquicardia, choro excessivo e sem sentido, crises de ansiedade e, até mesmo, numa ideia suicida. E aqui chegamos no ponto da questão, a razão desse texto. O Suicídio.
Quando perguntei nos stories do Instagram o que vinha à mente quando se fala em suicídio obtive as seguintes respostas: dor, depressão, falta de opção, desalento, desespero, angústia, medo, compaixão, porta de saída, cometer, nada, acabar com o sofrimento, uma triste libertação, limite da alma, o que leva alguém a tirar a própria vida e coisas relacionadas a isso. Todavia, a resposta que mais me chamou a atenção foi: “eu nem penso em entrar na conversa, pra evitar pensamentos negativos.
Esta última resposta me deixa com a pulga atrás da orelha pelo fato de demonstrar o que conversamos no início, tentamos afastar o que nos desagrada. E a primeira coisa, é: devemos aprender a falar sobre isso de forma natural e sem julgamentos. Alguém que está prestes a tirar contra a própria vida está sofrendo com uma dor inimaginável e não tem como eu ou você, saber o que é essa dor, não nos cabe julgar. O julgamento apenas afasta e joga pouco a pouco, o outro nos braços do desespero.
Precisamos falar sobre suicídio para tirar o tabu do assunto, com o objetivo de trazer para perto aqueles que pensam nisso, abrir um espaço de diálogo olho a olho, sendo sinceros e genuínos. A ignorância (falta de conhecimento) gera tanta intolerância, muitas vezes, vem revestida de religião ou conhecimento pseudocientífico que nos tornam pessoas inaptas em lidar com o ideário suicida. Precisamos encontrar novas formas de falar de assuntos tão antigos quanto o tempo.
A Fé é um excelente caminho, a crença que as coisas podem mudar e todos são capazes de reescrever sua história, uma religião pode trazer alento, desde que seja acolhedora buscando entender o outro e não apenas querendo que ela siga ritos e preceitos. Se pôr disponível para ouvir e não apenas falar, escutar com atenção verdadeira aquele que sofre pode ajudar com a conexão necessária para trazer acolhimento e não agir de forma que acalme a consciência daquele que deveria auxiliar, achando que fez o que poderia.
Não se sentir seguro em lidar com situações assim é normal, cabe a nós entender nossas possibilidades e encaminhar quando necessário para aqueles que possam, profissionais de saúde mental ou centro de apoio. O CVV (Centro de Valorização da Vida), tem atendimento 24 horas através do telefone 188, além de SPA em faculdades de psicologias ou serviços de atendimento social.
O mais importante é lembrar que você não está só. Sempre haverá alguém que está ao seu lado e disposto a te ajudar.
Sandro Bernardo, é psicólogo clínico desde 2016. Formado pelo IBMR e graduando do curso de Letras - Inglês da Estácio de Sá. Morador de Rio das Pedras a vida toda, montou o Movimento Crescer como forma de retornar para a comunidade o seu conhecimento. Este projeto é uma forma de trazer o atendimento psicológico de forma acessível para todos e com palestras levar o conhecimento psi para fora do consultório.
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